Wilkens, Hesketh, Matos e Condurú

Jornal “Gazeta Oficial” (PA), nº 105, de 15 de setembro de 1858, folha 3, publica sobre o falecimento de Francisca Leonarda de Matos, mãe de Margarida de Matos, que foi esposa do Cônsul Inglês em Belém na época da cabanagem, John Hesketh. No jornal do dia 17 de setembro, os netos Roberto e Guilherme Hesketh agradecem aos participantes das solenidades realizadas no cemitério de N. S. da Soledade. Ao final, o blog faz um retrospecto sobre a família de Francisca Leonarda para uma melhor compreensão dos personagens envolvidos. A grafia foi atualizada.

OBITUÁRIO

Cemitério de Nossa Senhora da Soledade, em 12 de setembro de 1858.

Francisca Leonarda de Matos, filha de Severino Eusébio de Matos e de Joana Wilkens, idade 72 anos, viúva, branca, natural desta província, anemia geral.

(…)

Jornal “Gazeta Oficial” (PA), nº 107, de 17 de setembro de 1958, folha 4

AGRADECIMENTO

Roberto Hesketh e Guilherme Hesketh, cordialmente agradecem a seus amigos e mais pessoas que se dignaram honrar com sua presença as exéquias feitas no cemitério de N. S. da Soledade no dia 12 do corrente, por ocasião de dar-se à sepultura os restos mortais de sua prezada avó, D. Francisca Leonarda de Matos.

NOTA DO BLOG: Henrique João Wilkens (autor do poema épico “A Muhraida”, ou Trinfo da Fé, escrito em 1785, mas sendo editado somente em 1819 pelo padre português Cipriano Pereira Alho, e que trata da vitória dos Portugueses sobre os índios Mura) chegou ao Grão-Pará em 1755, durante o governo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal. Ele era enteado do Boticário da Rainha Mãe, Dona Maria. Wilkens, ainda muito jovem, foi destacado como auxiliar do Padre Szentmartonyi, tendo depois se engajado como engenheiro nas comissões de limites da Amazônia. Foi morar em Barcelos, onde se casou com uma índia. Desse casamento nasceram José Joaquim Wilkens, que foi aposentado por invalidez na praça de Macapá após um acidente, e D. Joana Tereza Wilkens, que se casou com Severino Euzébio de Mattos (filho do sargento-mor Manuel Lourenço de Matos, cujo pai era dono de sesmaria), também membro da Comissão de Limites. Dessa união nasceram João Henrique de Mattos, Manoel Lourenço de Mattos (pai de João Wilkens de Matos, Barão de Maruiá), Raimundo Severino de Mattos e Francisca Leonarda de Matos.

Dona Francisca Leonarda casou-se com João Valente do Couto Tavares, com quem teve uma filha em 1807, Margarida de Matos Tavares, que por sua vez viria a se casar com John Hesketh, Vice-Cônsul e depois Cônsul Inglês durante a época da Cabanagem, com quem teve 8 filhos, sendo sete conhecidos: John, Mariano, Robert, Guilherme (Willian), Henry, Thomaz e James.

John Hesketh morreu em julho de 1838, de forma repentina, sendo que três semanas mais tarde, sua esposa, Margarida, também faleceu. Seus oito filhos foram inicialmente cuidados pela sogra de John, Dona Francisca Leonarda de Matos, mas três das crianças foram para a Inglaterra em 1841, deixando os outros cinco na América do Sul. Dos três que foram para a Inglaterra, apenas um sobreviveu – Henry Hesketh (1831-1901), mas os cinco que permaneceram na América do Sul todos floresceram.

Os irmãos de Francisca Leonarda tiveram certo destaque na vida política do estado e também nos acontecimentos da cabanagem. Manoel Lourenço de Mattos foi um dos principais oficiais do levante de 1823, objetivando a adesão do Pará a independência, mas acabou preso. João Henrique de Matos fez parte da junta governativa eleita em 18 de agosto de 1823, ao lado de Batista Campos e Félix Malcher. Ele também foi escolhido para comandar as forças de desembarque de Ângelo Custódio, em 1835, do qual renunciou. Porém, durante a defesa do Presidente legalista Manoel Jorge Rodrigues, durante a 2ª tomada de Belém pelos Cabanos, João Henrique assumiu uma coluna de tropas legais com a finalidade de desalojar os cabanos. Já Raimundo Severino de Matos foi o cônego enviado por Eduardo Angelim até o General Manoel Jorge Rodrigues para tentar libertar sua esposa.

O filho de John Hesketh, Guilherme, se uniu a Ana Tereza de Matos, de cujo casamento nasceu Cecília de Matos Hesketh, que se casou com Philadelpho Oliveira Condurú (idealizador da bandeira do clube republicano, que posteriormente seria adotada como bandeira do Estado Pará em 1890), constituindo numerosa família. Entre seus filhos consta Fernando Hesketh Condurú, que se casou com Josephina Pimentel Condurú, avós de Ricardo Condurú, autor do presente blog,

(Fontes consultadas para elaboração da nota: “A Amazônia na Era Pombalina”, de Marcos Carneiro de Mendonça; “Motins Políticos”, de Domingos Antônio Raiol; “Rebelião na Amazônia: Cabanagem, Raça e Cultura Popular no Norte do Brasil, 1798 – 1840”, de Mark Harris; “Cabanagem: Documentos Ingleses”, de David Clear; “De Chegadas e Partidas: Migrações e Trajetórias de Vidas Portuguesas no Pará (1800 – 1850)”, de Luiz Antônio Valente Guimarães; “Muito Além dos Seringais: Elites, Fortunas e Hierarquias no Grão-Pará, 1850 – 1870”, de Luciana Marinho Batista; “Our Men in Brazil: The Hesketh Brothers Abroad”, de Ian Sargen (www.jjhc.inf); “Família Matos”, artigo de Djalmira Sá Almeida (webartigos.com); “Henrique João Wilkens: Um Poeta Pioneiro no Amazonas”, artigo de Sales Maciel Góis; Site do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Site Bandeira.ind.br; Wikisource.org/arquivo nobiliárquico brasileiro/Maruiá)  

Publicado por ricardoconduru

Nascido no Rio de Janeiro, é formado em Administração pela UFPA.

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