O plano de ataque dos cabanos à vila de Vigia em abril de 1836

Jornal “Diário de Pernambuco”, nº 155, de 20 de julho de 1836, publica expediente de Francisco Sérgio de Oliveira, Major Comandante, datado de 7 de abril de 1836, destinado a Joaquim José Luiz de Souza, Comandante da Brigada de Pernambuco, dando informações sobre ações em Cintra, Salinas e Vila Nova, descrevendo inclusive o plano dos cabanos de  ataque a Vila de Vigia, o qual foi revelado por “um rapaz” que passou para o lado das forças legalistas.

Ilmo. Sr., das inclusas cópias de ofícios que tenho a honra de apresentar, verá V. Sª na que vai sob o nº 1 que Cintra e Salinas estão submetidos ao império da lei, donde vieram 14 presos que agoram seguem, e mais dois escravos de senhorios ausentes, que os mandei entregar ao juiz municipal desta vila.

Do que vai sob o nº 2, verá V. Sª que os rebeldes lembrados do que já outrora foram quiseram por meio de agressão realizada em Vila Nova levar mais uma lição que bem caro lhe custou, ficando o campo juncado com 30 mortos, exceto os feridos que ainda não se pode avaliar, e em seguimento dos agressores foi o alferes Mendes Guimarães, que deverá dar-lhes o ultimo desengano. Tivemos um G. N. [Guarda Nacional] morto pela sua coragem, e ser o primeiro que saltou fora da trincheira; este bravo tem família, e reclama a dignidade do governo, que não fique esta jazendo na miséria à falta daquele que sacrificou-se pela pátria; e oito feridos, entre estes alguns gravemente; porém lá estava o cirurgião ajudante Pimentel com uma diminuta ambulância, que mandei dividir da que aqui existe. Atendíveis são os serviços prestados pelo tenente Francisco José dos Santos, no desempenho das comissões que o tenho encarregado, desempenhando-as com prudência, acerto, e perícia, e sobretudo no ataque do dia 4 do corrente; e assim mais toda a guarnição portou-se maravilhosamente.

Bernardino Antônio Campo Verde, que foi corneta no Pará, era comandante da ação com 453 salteadores, segundo a informação de um rapaz que com ele veio, e passou-se para nossa força, sendo baleado por eles em um braço. Vão presos dois tapuios aprisionados no fogo. Refere o rapaz apresentado que o plano era atacar Vila Nova, tomarem as munições, irem a Cintra fazer outro tanto, e reunirem mais povos, e com a força que esperam de Marajó, que deve desembarcar em Colares, acometerem Vigia, onde julgam eles haver muita gente. Será fortuna se eles derem acometer-nos, pois é a maneira mais próxima de os acabar, visto que sendo eles acometidos, pouco fruto se alcança pelo sistema de correrem, logo que dão fé de nossas forças; no entretanto que as chuvas diárias nos estragam as munições, e atropa sofre muito, principalmente os paisanos que ainda não têm bornais, e muitos deles chapéus.

Deus guarde a V. Sª. Quartel do Comando da Força em Vigia, 7 de abril de 1836.

Imo. Sr. Joaquim José Luiz de Souza, Comandante da Brigada de Pernambuco. Francisco Sérgio de Oliveira, Major Comandante.

Conforme. Ernesto Emiliano de Medeiros.

Ajudante de Campo.

Publicado por ricardoconduru

Nascido no Rio de Janeiro, é formado em Administração pela UFPA.

Um comentário em “O plano de ataque dos cabanos à vila de Vigia em abril de 1836

  1. CABANAGEM – DOCUMENTOS INGLESES (O LIVRO)
    O relato de Alexander Paton, o Imediato do navio “Clio”, atacado ao largo de Salinas, a 29 de setembro de 1835 é magnífico. E traz informe precioso sobre a Cabanagem na Vigia, após o ataque de julho de 1835. Paton foi o único sobrevivente do navio mercante inglês, que veio de Liverpol carregado de quase 3.000 armas adquiridas pelo governo (legal), roupas, manteiga, sabão e cerveja – produtos encomendados por comerciantes de Belém.
    Fugindo pelo litoral, Paton recebeu, provavelmente em Cintra, ajuda de cabanos que o levariam até Belém. Mas, ele ficou homiziado na Vigia, por várias semanas, e de onde foi resgatado por um navio da armada inglesa. Paton prestou um depoimento ricamente detalhado sobre sua fuga, e o que ele viu na Vigia, relatando, inclusive, uma onda de peste.
    O marinheiro inglês foi um “protegido” de Angelim, que teria planejado usa-lo em negociação com a Armada de Sua Majestade. Mas um pescador, detido quando se dirigia a Belém, juntamente com uma criança de 9 anos, delatou sobre a presença, na vila da Vigia , do “estrangeiro”. O pescador foi encarregado de ir a Vigia buscar Paton, enquanto o menino ficava retido na embarcação da marinha inglesa, na costa da Vigia, em frente às Barretas (região hoje que separa Vigia de São Caetano de Odivelas). Tudo aconteceu como o planejado.: Paton chegou são e salvo a bordo da embarcação militar e foi levado para Belém.
    Os documentos militares, diplomáticos e comerciais, que os encontram em Londres (cópia no Arquivo Público do Pará), são ricas fontes sobre a Cabanagem, E têm muitas informações sobre a Vigia – que se tornou em centro de comando da reação aos cabanos.
    A publicação do livro de David Cleary, em 2002, foi uma inciativa do historiador Geraldo Coelho com a Imprensa Oficial do Estado (quando eu ainda presidia a autarquia).

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